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Óscares 2015: As minhas previsões

Filme
Realizador
Actor
Actriz
Boyhood Birdman EddieRedmayne JulianneMoore
Boyhood Birdman Eddie Redmayne Julianne Moore
Actor Secundário
Actriz Secundária
Argumento Original
Argumento Adaptado
J.K.Simmons PatriciaArquette Birdman AmericanSniper
J.K. Simmons Patricia Arquette Birdman American Sniper
Banda Sonora Original
Canção Original
Fotografia
Efeitos Visuais
TheImitationGame TheLegoMovie Birdman Interstellar
The Imitation Game The Lego Movie Birdman Interstellar
Guarda Roupa
Caracterização
Edição de Som
Mistura de Som
TheGrandBudapestHotel Foxcatcher AmericanSniper  Whiplash
The Grand Budapest Hotel Foxcatcher American Sniper Whiplash
Montagem
Direcção Artística
Filme Estrangeiro
Filme de Animação
AmericanSniper TheGrandBudapestHotel Ida Big Hero 6
American Sniper The Grand Budapest Hotel Ida Big Hero 6

 

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Óscares 2014: As minhas previsões

Filme
Realizador
Actor
Actriz
12 Years a Slave Gravity Matthew McConaughey Cate blanchett
12 Years a Slave Alfonso Cuarón Matthew McConaughey Cate Blanchett
Actor Secundário
Actriz Secundária
Argumento Original
Argumento Adaptado
Jared Leto Jennifer Lawrence American Hustle The Wolf of Wall Street
Jared Leto Jennifer Lawrence American Hustle The Wolf of Wall Street
Banda Sonora Original
Canção Original
Fotografia
Efeitos Visuais
Philomena Mandela Gravity Gravity
Philomena Mandela Gravity Gravity
Guarda Roupa
Caracterização
Edição de Som
Mistura de Som
American Hustle Dallas Buyers Club All is Lost  Captain Phillips
American Hustle Dallas Buyers Club All Is Lost Captain Phillips
Montagem
Direcção Artística
Filme Estrangeiro
Filme de Animação
12 Years a Slave Her The Great Beauty Frozen
12 Years a Slave Her The Great Beauty Frozen

Óscares 2014: As minhas escolhas

Gravity
Filme
Gravity conseguiu ser um sucesso de bilheteira e agradar aos críticos. É para muitos o filme do ano, não só pelo filme em si mas também pelos avanços tecnológicos.
Alfonso Cuarón
Realizador
Cuarón já tinha dado provas do seu talento, mas ultrapassou todas as expetativas com Gravity e criou uma obra prima.
Matthew McConaughey
Actor
McConaughey conseguiu transformar Dallas Buyers Club numa biopic fantástica. Merece ganhar não só pelos quilos que perdeu mas pelo seu desempenho.
Amy Adams
Actriz
Todas as nomeadas têm performances fantásticas. No entanto Amy Adams é a única que nunca ganhou um Óscar. 
Jared Leto
Actor Secundário
Jared Leto é surpreendente no papel do transexual Rayon, em Dallas Buyers Club, e apenas Michael Fassbender lhe conseguirá fazer frente nesta categoria.
Lupita Nyong'o
Actriz Secundária
Apesar de Jennifer Lawrence ter um interpretação excelente, não tem tempo de ecrã suficiente para fazer frente a Lupita.
Her
Argumento Original
Her têm um dos argumentos mais originais dos últimos tempos, e já que Joaquin Phoenix não foi nomeado para melhor ator pelo menos este Óscar terá de receber.
12 Years a Slave
Argumento Adaptado
Noutro ano 12 Years a Slave teria sido um dos meus favoritos para os prémios maiores mas este ano a concorrência é feroz.
Philomena
Banda Sonora Original
Desplat tem sido sempre a dama de honor e nunca a noiva. Esta é a sua 6 nomeação e apesar de Gravity ser um forte candidato Philomena merece um dos prémios.
Frozen
Canção Original
Apesar de gostar também de Happy e de The Moon Song, Let It Go é sem dúvida um dos grandes sucessos deste ano.
Gravity
Fotografia
Se Emmanuel Lubezki não receber este Óscar será uma das maiores injustiças de sempre dos prémios da Academia. O seu trabalho em Gravity é brilhante.
Gravity
Efeitos Visuais
Ninguém pode negar que Gravity é o candidato mais forte desta categoria e pode vir a ficar na nossa memória como um dos marcos desta arte.
The Great Gatsby
Guarda Roupa
Nesta categoria os dois filmes com maiores hipoteses são American Hustle e The Great Gatsby. A escolha será bastante difícil.
Dallas Buyers Club
Caracterização
Nesta categoria não há dúvidas, Dallas Buyers Club será o vencedor. Aliás, dos nomeados é o único que cuja nomeação faz sentido.
All is Lost
Edição de Som
O cenário de All is Lost é um grande desafio de edição de som, tal como acontece em Gravity. O vencedor desta categoria será sem dúvida um destes filmes.
Gravity
Mistura de Som
Pelo desafio que o enredo apresenta em termos de mistura de som é provável que Gravity seja o vencedor.
12 Years a Slave
Montagem
Qualquer um dos nomeados poderia receber o Óscar nesta categoria.
American Hustle
Direcção Artística
Qualquer um dos nomeados poderia receber o Óscar nesta categoria.
The Hunt
Filme Estrangeiro
Apesar de tudo apontar para que o vencedor desta categoria seja The Great Beauty, The Hunt parece ser o favorito do público.
Frozen
Filme de Animação
Frozen é provavelmente o favorito para a categoria de melhor filme de animação, mas The Wind Rises também tem grandes hipóteses.

Corrida para os Óscares: Gravity

GravityOs primeiros minutos de Gravity são de um realismo tal que o espectador quase pode acreditar que este foi rodado no espaço. Vemos a tripulação  a fazer reparações no exterior do Space Shuttle Explorer e como pano de fundo o majestoso planeta terra preenchendo o ecrã e mostrando o quão isolados estão a tripulação e a sua nave e o quão insignificantes se apresentam perante a imensidão do cosmos.

A câmara flutua em direção a eles e conseguimos ver por detrás do volumoso fato espacial Ryan Stone (Sandra Bullock), nervosa por estar na sua primeira missão espacial, o comandante da missão Matt Kowalski (George Clooney) e também, mas sem grande detalhe, o engenheiro de voo Shariff Dasari (Phaldut Sharma). À medida que a câmara se vai aproximando começamos também a ouvir as suas conversas e somos surpreendidos com uma mensagem do controlo de missão em Houston (Ed Harris) que anúncia a destruição (bastante “eficaz”) de um satélite obsoleto e que estilhaços do mesmo os poderão atingir. De repente há detritos por todo o lado, já não há comunicações com a terra, a nave é atingida e Kowalski e Stone são arremessados violentamente, tentando a todo o custo não ficar à deriva. Quando o espectador se dá conta, está apertando os braços da cadeira do cinema tentando segurar-se para não ficar à deriva também enquanto mimetiza a respiração ofegante de Ryan Stone.

É impossível negar que Gravity é uma experiência física esmagadora. Raramente um filme consegue criar uma verdadeira sensação de imersão e muito menos a este nível. O filme de Alfonso Cuarón consegue colocar os espectadores flutuando no espaço, com medo de serem atingidos por algum detrito, juntamente com os atores através de uma combinação engenhosa de live action, imagens geradas por computador e 3D.

A ação está de tal forma bem coreografada que quase acreditamos que Sandra Bullock e George Clooney estão realmente no espaço, sem gravidade. O realismo é habilmente aprimorado com a fluidez de movimentos que têm a beleza de um bailado. Gravity tem de ser visto no cinema, em 3D, e de preferência na maior tela possível! Assistir ao filme de Cuarón no pequeno ecrã em 2D é comparável a ouvir a Sinfonia n.º 9 de Beethoven num rádio a pilhas, é possível mas incomparável a ouvi-la ao vivo interpretada por uma orquestra. O 3D em Gravity é essencial! É um caso raro em que os elementos 3D não são apenas artifícios para tornar o filme mais in e interessante para a massa é vital para a imersão.

No cinema são raras as vezes em que se consegue criar sensações de imersão no espectador e só recentemente com o recurso aos avanço tecnológicos é que se começa a conseguir criar esta sensação mais facilmente. Cuarón parece dominar os aspectos tecnológicos do cinema como poucos criadores o conseguem. Juntamente com a sua equipa conseguiu alcançar o realismo meticuloso que o filme exigia, combinando tecnologias existentes com outras completamente novas. E não é possível falar das maravilhas técnicas de Gravity sem falar do cinematógrafo Emmanuel Lubezki. Se os anteriores longos single-takes de Lubezki em filmes de Cuarón eram impressionantes, estes não se comparam com a  magnitude do take de abertura de Gravity, contando com doze minutos… sem cortes. Para o cinematógrafo mexicano se os espectadores percebessem que a sequência era apenas um take continuo seria sinal que os espectadores não estariam imersos na cena. Cuaron e Lubezki queriam que Gravity parecesse o mais natural possível, uma tarefa muito difícil de levar a cabo quando se tem de recorrer tanto a CGI. Conseguiram fazê-lo de tal forma que deverão receber o Óscar para Melhores Efeitos Visuais.

Um dos filmes que mais surpreendeu em termos técnicos em 2012 (e que acabou por alcançar tanto o Óscar para Melhores Efeitos Visuais e como para Melhor Realizador) também se tratava de um drama em 3D sobre a sobrevivência num ambiente hostil. Em Life of Pi o personagem principal estava sozinho num pequeno barco no meio do oceano Pacífico e tinha como seu único companheiro um temível tigre de Bengala, que pode ou não ser real dependendo do ponto de vista do espectador. Em Gravity a personagem de Sandra Bullock (Ryan Stone) está perdida no vácuo do espaço sem atmosfera, sem som, sem nenhuma ligação à terra e apenas acompanhada pelo seu companheiro de missão Matt Kowalski. Ou será que o Gravity tem um plot twist? Em ambos os filmes o real se confunde com o irreal e é necessária grande mestria para deixar as coisas de tal forma em aberto que diferentes espectadores defendam o seu ponto de vista como sendo o verdadeiro.

Gravity tem um desafio adicional: superar o preconceito  do espectador que poderá achar que já viu tudo aquilo antes. Depois de mais de 100 anos (desde Le voyage dans la lune de Georges Méliès) de filmes sobre viagens espaciais a temática parece ter perdido algum do seu brilho. Cuarón conseguiu, no entanto, voltar a fazer-nos sonhar com o espaço, ainda por cima num ano tão especial no qual o projeto SpaceX renovou em muitos de nós a esperança de um dia viajar pelo cosmos.

Alfonso Cuarón mais uma vez deu provas de que é um realizador extremamente talentoso e com uma dedicação fora de série. Apesar de todas as incoerências científicas que foram apontadas a Gravity, Cuarón fez questão de representar da forma mais credível possível tudo o que conseguiu. Como Neil deGrasse Tyson, um popular astrofísico americano, acabou por afirmar “ganhar o direito de ser criticado num nível científico é um grande elogio.” Numa época em que os filmes que mais fazem uso de CGI e efeitos especiais são filmes pomposos que muito pouco têm de parecido com a realidade é algo surpreendente que um filme que aparenta ser realista e simples nos consiga deixar completamente hipnotizados e a pensar “como é que será que eles conseguiram fazer isto?”

 

Título Original Gravity
Título em Portugal Gravidade
Realizadores Alfonso Cuarón
Argumento Alfonso Cuarón e Jonás Cuarón
Elenco Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris
Nomeações Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Realizador, Melhor Fotografia, Melhor Montagem,  Melhor Direcção Artística, Melhor Banda Sonora Original, Melhor Mistura de Som, Melhor Edição de Som e Melhores Efeitos Visuais
A Minha Pontuação 10/10

Corrida para os Óscares: 12 Years a Slave

12 Years a Slave

12 Years a Slave é mais um filme sobre a escravatura na América, mas é provavelmente um dos melhores de sempre. Depois do ousado Shame, Steve McQueen volta às longas metragens desta vez com uma grande produção. O mais recente filme do realizador britânico conta a história, quase inteiramente verídica, de Solomon Northrup, um negro livre que foi raptado e vendido como escravo no século XIX.

Interpretado pelo ator Chiwetel Ejiofor, Solomon vivia com a sua mulher e filhos em Saratoga Springs, Nova Iorque, e foi aliciado por dois homens com um emprego de duas semanas como violinista. Northup foi drogado pelos dois homens (Scoot McNairy e Taran Killam) e acordou acorrentado, prestes a ser vendido como escravo. Foi depois enviado para Nova Orleães onde lhe deram uma nova identidade e a partir desse momento deixou de ser Northup e passou a ser Platt, um escravo fugitivo da Geórgia. Primeiro foi vendido a Theophilus Freeman, um traficante de escravos (Paul Giamatti) que não tarda em vendê-lo novamente ao fazendeiro William Ford (Benedict Cumberbatch). Ford é um esclavagista (relativamente) benevolente e até lhe ofereceu um violino, no entanto devido a tensões com John Tibeats (Paul Dano)  Ford vê-se forçado a vender Northup a Edwin Epps (Michael Fassbender). Aqui começa realmente o martírio do homem livre tornado escravo.

Apesar de Northup já ter sofrido bastante principalmente nas mãos de Tibeats nada se compara com o terror físico e psicológico que sofre na plantação de Edwin Epps. O seu novo mestre é um homem de uma maldade atroz, que vagueia a toda a hora como um predador, procurando alguém para magoar e humilhar. Fassbender consegue ser assustadoramente credível no seu papel e mesmo nas cenas mais intensas não perde o olhar cruel, quase lunático.

‬Outra prestação de destaque é a de Lupita Nyong‭’‬o, que interpreta Patsey, uma escrava ‬pela‭ ‬qual a personagem de Fassbender tem uma obsessão desmedida. Ela é responsável por algumas das cenas mais arrebatadoras do filme. É impossível ficar indiferente à cena em que ela pede desesperadamente a Northup para lhe tirar a vida e acabar com o seu sofrimento, ou a cena em que é violentamente chicoteada por Epps.

A história de Solomon já por si é aterradora, mas não deixa de ser incrível a forma como McQueen consegue criar no espectador tamanha repulsa pelas provações pelas quais o personagem principal passa. O filme pode ser estilisticamente tradicional e em termos de estrutura narrativa é provavelmente o filme mais convencional e simples de McQueen. No entanto não deixa de ser, tal como os anteriores filmes do realizador, brutal e de uma beleza estética quase desconcertante. Algumas das suas escolhas de planos e composições são tão requintadas como as de uma obra de arte. Encontramos em 12 Years a Slave planos contemplativos, como por exemplo os quadros bucólicos de lagartas rastejando sobre os novelos de algodão ou as árvores refletidas num pântano à luz do pôr do sol, contrastando com cenas de violência, violação e enforcamento. É inegável a influência do background de McQueen, que começou a sua carreira como artista de vídeo experimental, nas suas escolhas como realizador.

Até ao momento Steve McQueen têm optado sempre por temas bastante polémicos e faz questão em todos eles de prolongar os planos mais dolorosos, de tal maneira que se torna impossível o espectador não sofrer também. O realizador, que conta com apenas três longas metragens no seu currículo, ganhou reputação através dos seus filmes mais independentes, nomeadamente através de Shame, que apesar de aclamado pela crítica acabou por ser ignorado nos galardões mais relevantes do cinema. Shame, que retrata o drama de um viciado em sexo, foi por muitos considerado a grande obra-prima de McQueen, principalmente pelo facto de nunca antes um realizador ter conseguido transmitir o sofrimento de um viciado. Para muitos este foi ultrapassado por 12 Years a Slave e provavelmente McQueen não será novamente ignorado pelos prémios da Academia.

Apesar de 12 Years a Slave ser um filme sobre um dos mais feios assuntos é inegável a sua beleza. No entanto, apesar de ter ficado provado que McQueen é um realizador manifestamente talentoso, considero que existem entre os nomeados para a maior parte das categorias para as quais 12 Years a Slave foi nomeado candidatos melhores. Para a categoria de Melhor Filme 12 Years a Slave é apontado como o grande favorito mas na minha opinião tanto Gravity como Dallas Buyers Club conseguem ultrapassá-lo: o primeiro pela inovação técnica e estilística que traz; ambos pela novelty dos enredos. O filme de McQueen é de certa forma penalizado por ter como base uma temática sobejamente explorada e apesar de ter sido muito bem abordada torna-se de certa forma cansativo ver ano após ano mais um filme sobre escravatura. Também não ajuda o facto de, em termos de interpretações, estarem nomeados filmes nos quais os atores têm performances fora de série e infelizmente em 12 Years a Slave os atores secundários acabam por ter mais força do que o próprio ator principal.

 

Título Original 12 Years a Slave
Título em Portugal 12 Anos Escravo
Realizadores Steve McQueen
Argumento John Ridley a partir do livro de Solomon Northup
Elenco Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong’o, Benedict Cumberbatch
Nomeações Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Secundário, Melhor Atriz Secundária, Melhor Realizador, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Direcção Artística, Melhor Edição e Melhor Argumento Adaptado
A Minha Pontuação 8/10

Corrida para os Óscares: Dallas Buyers Club

Dallas Buyers ClubSe ainda existiam dúvidas acerca do talento de Matthew McConaughey todas essas dúvidas se dissipam com Dallas Buyers Club. Ron Woodroof é provavelmente o papel da vida de McConaughey e a devoção dele a este papel é inegável. Para interpretar Ron Woodroof, o texano de 1,82 de altura perdeu 21 quilos, ficando com apenas 61 quilos e irreconhecível.

A personagem de McConaughey é baseada no verdadeiro Ron Woodroof, um eletricista heterossexual de Dallas que em 1985 descobriu que estava infetado com HIV. Como se vê no filme os médicos tinham lhe dado apenas 30 dias de vida, mas Woodroof recusou-se a aceitar esta sentença de morte.

Depois de passar a fase de negação e de aceitar que a doença não atinge apenas homossexuais, Woodroof começa a engendrar um plano para aumentar as suas hipóteses de sobrevivência. Primeiro tenta aceder ilegalmente aos novos tratamentos com AZT, mas ao perceber que os tratamentos não estavam a funcionar e que provavelmente não iria continuar a ter acesso à medicação procura um tratamento no México com uma medicação alternativa. É lá que tem a ideia de criar uma operação de tráfico dessa medicação não aprovada pela FDA. No filme Woodroof é uma espécie de Robin Hood que, apesar de não ser de graça, fornece aos pacientes com SIDA tratamentos alternativos que, se não faziam mais, pelo menos atenuavam a sintomatologia da doença.

Matthew McConaughey é exímio a encarnar Woodroof, que no início é um homem horrível, racista, homofóbico, ou seja, a pior versão de redneck texano possível. O que torna a personagem tão interessante é a maneira como um homem tão desagradável fundamentalmente impulsionado pelo egoísmo sofre uma mudança de postura após saber que a sua vida estava ameaçada. Com o desenrolar do filme as suas arestas vão sendo limadas naturalmente pelos acontecimentos e ele começa finalmente, à sua maneira, a aceitar a homosexualidade. De tal forma que até o seu braço direito no negócio de tráfico de medicamentos é um transexual chamado Rayon, interpretado por Jared Leto.

Jared Leto é incrível na sua interpretação, estando completamente à altura de McConaughey. Também ele passou por transformações físicas por causa deste papel, tendo perdido bastante peso e adotado a sua caracterização de transexual durante a duração das filmagens. No entanto são bem mais impressionantes as transformações comportamentais. Durante a duração do filme esquecemos-nos completamente do Jared Leto estrela de rock, adorado por milhões de raparigas pelo mundo fora. Durante 117 minutos acreditamos piamente que ele é Rayon: sensível, atencioso, gracioso e nunca perde o seu humor cáustico. Rayon é de tal maneira afável que até consegue conquistar o duro Woodroof e apesar deste não ter grandes manifestações e de trata-lo sempre como se fosse um homem é notório o carinho que ele discretamente sente por Rayon.

Ser abertamente transexual em Dallas, ou em qualquer parte dos Estados Unidos nos anos 80 devia ser terrível (com algumas exceções como talvez zonas de São Francisco e da baixa de Manhattan): enfrentar manifestações públicas de ódio, incompreensão, exclusão, etc. Jared Leto consegue mostrar como apesar da sua personagem ter um caráter forte e se sentir completamente realizado, tudo o que ele enfrentou a partir do momento em que assume a sua verdadeira essência deixou mazelas incuráveis. Ele é responsável por algumas das cenas mais enternecedoras do filme.

Talvez desde Philadelphia nenhum outro filme pegou na temática da SIDA e foi capaz de emocionar e despertar consciências. Dallas Buyers Club tem essa capacidade mas de uma maneira nova pois escolhe apresentar um anti-herói homofóbico que provavelmente fará com que até os espectadores com mais dificuldades em aceitar os chamados “estilos de vida alternativos” irão reconhecer que as posições dele são horríveis. Se até um homofóbico redneck pode deixar de ser tão preconceituoso, talvez haja esperança para os demais.

 

Título Original Dallas Buyers Club
Título em Portugal O Clube de Dallas
Realizadores Jean-Marc Vallée
Argumento Craig Borten e Melisa Wallack
Elenco Matthew McConaughey, Jennifer Garner, Jared Leto
Nomeações Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Secundário, Melhor Edição, Melhor Caracterização e Melhor Argumento Original
A Minha Pontuação 9/10

Corrida para os Óscares: American Hustle

American HustleAmerican Hustle é um dos filmes com mais nomeações na 86.ºs edição dos prémios da Academia e é um sério candidato à vitória em muitas das categorias para as quais está nomeado. O filme de David O. Russel está nomeado para Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Secundário, Melhor Atriz Secundária, Melhor Realizador, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Direcção Artística, Melhor Edição e Melhor Argumento Original.

O enredo de Eric Warren Singer e David O. Russell foi inspirado num escândalo de corrupção que remonta aos anos 70, apelidado de Abscam. A operação consistiu numa emboscada que permitiu que vários políticos fossem apanhados a aceitar, em troca de vários favores políticos, subornos oferecidos por agentes do FBI disfarçados de Sheiks ricos.

No entanto a trama de American Hustle é bem mais interessante e glamorosa do que os eventos que a inspiraram. As personagens principais são um par de vigaristas, Irving Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams). Ele é dono de uma cadeia de lavandarias que aparentam fazer “lavagens” mais no sentido figurado do que no sentido de lavar roupa, e ainda paralelamente vende arte roubada/forjada e opera um negócio de empréstimos falsos para pessoas desesperadas e incapazes de conseguir empréstimos por vias legítimas. Ela é a amante de Irving e seu braço direito nos esquemas, adotando a persona de uma aristocrata inglesa, Lady Edith Greensly, glamorosa, sofisticada e com uma vasta rede de contactos com bancos britânicos. Ambos são coagidos pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper) a participar num golpe para apanhar políticos corrompíveis, como foi o presidente da Câmara de Camden, New Jersey, Carmine Polito (Jeremy Renner).

A performance de Christian Bale é magistral. O ator não se limitou a encarnar as características psicológicas do personagem como também se submeteu a mais uma transformação física incrível. Para representar Irving Bale engordou cerca de 18 quilos, ganhou a barriga típica de um apreciador fervoroso de cerveja e adotou um penteado medonho que prima pela escassez de cabelo conjugada com a utilização de um capachinho de qualidade duvidosa. O excesso de peso e a calvície associados aos melhores e mais pirosos fatos de poliéster dos anos 70 tornam a personagem de Bale deliciosamente foleira.

Irving é casado com Rosalyn, uma mãe solteira, carente, passivo-agressiva e ligeiramente neurótica cujo filho Irving tomou sob a sua asa. A personagem de Jennifer Lawrence é deliciosamente irritante e é um prazer vê-la ter um desempenho tão bom mesmo que num papel tão curto em tempo no ecrã. Em American Hustle Jennifer Lawrence demonstra que realmente tem talento para a comédia e conquista completamente o espectador com a sua personagem brega-chic, de bronzeado falso, cabelo cheio de laca e unhas postiças.

A parceira e verdadeira alma gémea de Irving também parece ter sido escolhida a dedo para o papel. Com o seu ar de boneca de porcelana Amy Adams representa uma mulher de origens humildes, que outrora foi stripper, mas que por ser inteligente e determinada conseguiu dar a volta à sua vida e fingir ser uma mulher glamorosa e sensual. Contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que não tem um decote até o umbigo, mas este visual é vital para os esquemas que tem com Irving. Amy Adams tem um papel mais apelativo e mais fácil cativar a empatia do público, mas menos interessante e visceral do que o de Jennifer Lawrence.

Bradley Cooper, apesar de ser uma das personagens vitais para a história é menos interessante ainda e é possível imaginar mil e um atores que conseguiriam fazer mais e talvez melhor com este papel. O agente Richie DiMaso parece-se em demasia com John Travolta em “Saturday Night Fever” e esta aparência física é algo desconcertante num agente do FBI.

Outra personagem que vale a pena destacar é Carmine Polito o presidente da câmara de Camden, interpretado por Jeremy Renner. Ele é um dos políticos apanhados na operação Abscam e foi grosseiramente inspirado em Angelo Errichetti, antigo presidente da câmara de Camden e um dos políticos envolvidos no verdadeiro Abscam. Renner é excelente ao nos passar a ideia de que a sua personagem não é verdadeiramente má nem boa, é apenas um político dedicado à sua cidade, um homem de família, e que vê a corrupção como um mal necessário para alcançar um equilíbrio numa cidade de tão grandes extremos.

É impossível falar de American Hustle e não destacar a sua magnifica banda sonora totalmente inesperada para um filme sobre criminalidade e política. Apesar de talvez não parecer que uma banda sonora que vai de Duke Ellington e Frank Sinatra a Chicago e Donna Summer combine com este enredo, mas tudo encaixa na perfeição e a energia das cenas foi empolada graças a esta integração perfeita de todos os elementos que compõem o filme. São pequenos pormenores como o facto de em algumas cenas as personagem murmurarem silenciosamente a letra da música que estamos a ouvir, fazendo com que sintamos que estamos a ouvir o que vai dentro das suas cabeças, que tornam o filme de Russel tão harmonioso.

Tanto American Hustle como The Wolf of Wall Street têm semelhanças inegáveis com o clássico de Martin Scorsese, GoodFellas. O uso da narração e da música pop são algumas das características do realizador ítalo-americano que estão patentes em ambos os filmes. No entanto American Hustle presta uma melhor homenagem a Goodfellas do que o próprio filme de Martin Scorsese. Uma das características que faz com que American Hustle seja mais interessante do que The Wolf of Wall Street, e que é também uma característica de Goodfellas, é o facto de o espectador conseguir ter grande empatia com algumas personagens. Isto deve-se ao facto de, apesar de serem vigaristas, aquelas personagens têm a sua história, inseguranças, falhas que justificam as suas ações e que as tornam humanas. Irving adota o filho de Rosalyn , Sydney quer ultrapassar o seu passado menos bom, até a personalidade ligeiramente irritante de Rosalyn parece ser fruto de um passado que a transformou numa pessoa que necessita de artifícios para encobrir a sua insegurança.

 

Título Original American Hustle
Título em Portugal Golpada Americana
Realizadores David O. Russell
Argumento Eric Warren Singer e David O. Russell
Elenco Christian Bale, Amy Adams, Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Jeremy Renner
Nomeações Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Secundário, Melhor Atriz Secundária, Melhor Realizador, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Direcção Artística, Melhor Edição e Melhor Argumento Original
A Minha Pontuação 8/10

Corrida para os Óscares: Frozen

FrozenQuem conhece o musical Wicked lembra-se com certeza do momento épico em que Elphaba ergue-se no ar a cantar Defying Gravity. Quem conhece o musical Wicked consegue ver as semelhanças entre este e o mais recente filme de animação da Disney — Frozen — inspirado no famoso conto The Snow Queen de Hans Christian Andersen.

Não é o simples facto de ter sido Idina Menzel a protagonizar esse momento épico do teatro musical e a dar voz a uma das personagens principais de Frozen, nem o facto da atriz ter novamente dado voz a uma canção (Let It Go) que ficará na memória dos fãs de musicais. Frozen é muito parecido com o Wicked em termos de estilo, na forma como as músicas surgem naturalmente integradas na narrativa e na grandiosidade da interpretação de alguns temas que com certeza se tornarão clássicos.

Todos os atores que deram voz às personagens de Frozen fizeram um excelente trabalho. Destacam-se no entanto Kristen Bell, que surpreendeu bastante com as suas qualidades vocais, e Idina Menzel, que conseguiu dar uma magia especial às músicas que interpretou.

Kristen Bell e Idina Menzel são Anna e Elsa respetivamente, duas princesas, irmãs que se afastam porque Elsa nasceu amaldiçoada e congela tudo o que toca. O mais recente filme de animação da Disney é provavelmente a única história de princesas da Disney em que o tema não é o amor entre o príncipe e a princesa mas sim entre duas irmãs, que apesar das adversidades não deixam de gostar uma da outra. Para além disso passa a mensagem de que é preciso aceitarmo-nos como somos e não ceder à pressão da conformidade.

Frozen é sensacional não só pela qualidade da história e das músicas mas também pelas inovações técnicas que trouxe. Foi graças à investigação que a Disney e a UCLA levaram a cabo que pela primeira vez num filme de animação temos uma simulação quase perfeita de neve, por exemplo. Por incrível que possa parecer a neve é ​​um fenómeno natural bastante difícil de simular, especialmente a interação com esta. Também a forma como as personagens foram animadas é impressionante e mais do que nunca as personagens parecem ganhar vida e comportar-se como se fossem humanas.

O filme da Disney está nomeado para os Óscares de Melhor Filme de Animação e Melhor Canção Original mas apenas na primeira tem fortes hipóteses de receber o Óscar. Espero também que Frozen não seja esquecido nos Prémios Científicos e Técnicos da Academia.

 

Título Original Frozen
Título em Portugal Frozen – O Reino do Gelo
Realizadores Chris Buck, Jennifer Lee
Argumento Jennifer Lee
Elenco Kristen Bell, Idina Menzel Idina Menzel, Jonathan Groff, Josh Gad, Santino Fontana
Nomeações Melhor Filme de Animação e Melhor Canção Original
A Minha Pontuação 10/10

Corrida para os Óscares: The Wolf of Wall Street

The Wolf of Wall StreetNo ano em que as histórias sobre vigaristas fazem furor em quase todos os prémios do cinema, The Wolf of Wall Street é sem dúvida o mais polémico dos nomeados. O mais recente filme de Martin Scorsese retrata a história de Jordan Belfort, um jovem corretor da bolsa que enriquece através do negócio das ações de baixo valor, fraudes de investimento e lavagem de dinheiro.

The Wolf of Wall Street é o filme mais longo da carreira de Martin Scorsese, mas para que valha a pena investir três horas num filme sobre um corretor da bolsa corrupto seria preciso que o filme fosse muito mais do que glamoroso e esporadicamente divertido. O problema do filme de Scorsese não é, como muitos apontam, o excesso de álcool, sexo e drogas, é sim o facto de acabar por ser redundante e essencialmente aborrecido.

Parece que Scorsese e o argumentista Terence Winter pensaram que a maneira de mostrar a vida de excessos de Belfort era serem também eles excessivos. Mas de quantas cenas de bacanal necessita o espectador para perceber como era a vida de Belfort? E quanto tempo têm de durar estas cenas?

Muitas das sequências deveriam claramente ter sido cortadas na edição pois alongam-se tanto que o espectador perde o interesse. O exemplo mais flagrante é uma sequência em que Donnie Azoff, a personagem de Jonah Hill, e Brad (Jon Bernthal) estão numa rua a discutir com uma mala cheia de dinheiro entre eles. A cena é tão longa que no ponto alto da mesma, quando Brad é apanhado pela polícia, nem nos conseguimos recordar o porquê da discussão, de onde aparecem os polícias e o que é aquele dinheiro.

Outra cena demasiado longa é a sequência em que Jordan, completamente drogado, rasteja até o seu carro desportivo estacionado à porta do country club. Tendo em conta que fomos bombardeados durante todo o filme com cenas de abuso de estupefacientes esta cena de humor negro tinha todo o potencial para ser o símbolo máximo da decadência da vida de Belfort. No entanto perde toda a sua força pelo facto de se arrastar demasiado e acaba por deixar o público esgotado e irritado.

Todos os minutos a mais vão acumulando de tal forma que até os momentos vibrantes do filme se tornam monótonos. Apesar de ser divertido ver DiCaprio a representar as cenas em que Belfort estava sob o efeito de Quaaludes ou nos seus discursos acalorados para a sua matilha de corretores da bolsa, tudo isto se torna também tristemente previsível e longo.

Mas enganam-se os que pensam que os atores são responsáveis pelos fracassos do filme. DiCaprio tem uma performance incrível, muito provocadora, destemida e exuberante. Talvez esta não seja suficiente para que mereça o Óscar de Melhor Ator, no entanto justifica claramente a sua nomeação. Também Jonah Hill tem um excelente desempenho no papel de melhor amigo de Belford e apesar de não ter grandes hipóteses de receber o Óscar para Melhor Ator Secundário a nomeação (pela segunda vez) é uma grande vitória para o comediante.

A atriz Margot Robbie, que interpreta a mulher-troféu de Belford, fez o que conseguiu com o seu papel pouco desenvolvido e mesmo assim conseguiu brilhar em algumas cenas. A sequência em que ela se humilha perante o marido em frente do berço do bebé tinha imenso potencial, mas como Scorsese não desenvolveu a relação entre ela e o marido ficou a ser apenas mais uma cena de sexo.

Entre planos mal conseguidos e más escolhas de edição (a não nomeação para a categoria de Edição nos Óscares não foi uma surpresa) o filme ainda poderia ter sido salvo pela performance dos atores, no entanto nenhuma das personagens, com excepção de Belfort, foi suficientemente desenvolvida para que o espectador pudesse relacionar-se com o filme. O filme acaba por não conseguir cativar o interesse nem pelas personagens nem pela temática, que também foi pobremente abordada e assim The Wolf of Wall Street acaba por ser apenas um Goodfellas mediano, demasiado longo, feito à pressa e sem atenção ao detalhe.

 

Título Original The Wolf of Wall Street
Título em Portugal O Lobo de Wall Street
Realizadores Martin Scorsese
Argumento Terence Winter a partir do livro de Jordan Belfort
Elenco Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Rob Reiner, Jean Dujardin, Kyle Chandler
Nomeações Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Secundário, Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado
A Minha Pontuação 7/10

Óscares 2013: A 85.ºs edição dos prémios da Academia passo a passo

Poderão acompanhar os meus comentários à 85.ºs edição dos prémios da Academia. A gala está prevista para a 1:30, hora de Lisboa, mas a TVI irá transmitir a partir da 1:00 acompanhando ainda o final da passadeira vermelha. Quem quiser poderá acompanhar a partir das 23:00 no E!