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Corrida para os Óscares: Gravity

GravityOs primeiros minutos de Gravity são de um realismo tal que o espectador quase pode acreditar que este foi rodado no espaço. Vemos a tripulação  a fazer reparações no exterior do Space Shuttle Explorer e como pano de fundo o majestoso planeta terra preenchendo o ecrã e mostrando o quão isolados estão a tripulação e a sua nave e o quão insignificantes se apresentam perante a imensidão do cosmos.

A câmara flutua em direção a eles e conseguimos ver por detrás do volumoso fato espacial Ryan Stone (Sandra Bullock), nervosa por estar na sua primeira missão espacial, o comandante da missão Matt Kowalski (George Clooney) e também, mas sem grande detalhe, o engenheiro de voo Shariff Dasari (Phaldut Sharma). À medida que a câmara se vai aproximando começamos também a ouvir as suas conversas e somos surpreendidos com uma mensagem do controlo de missão em Houston (Ed Harris) que anúncia a destruição (bastante “eficaz”) de um satélite obsoleto e que estilhaços do mesmo os poderão atingir. De repente há detritos por todo o lado, já não há comunicações com a terra, a nave é atingida e Kowalski e Stone são arremessados violentamente, tentando a todo o custo não ficar à deriva. Quando o espectador se dá conta, está apertando os braços da cadeira do cinema tentando segurar-se para não ficar à deriva também enquanto mimetiza a respiração ofegante de Ryan Stone.

É impossível negar que Gravity é uma experiência física esmagadora. Raramente um filme consegue criar uma verdadeira sensação de imersão e muito menos a este nível. O filme de Alfonso Cuarón consegue colocar os espectadores flutuando no espaço, com medo de serem atingidos por algum detrito, juntamente com os atores através de uma combinação engenhosa de live action, imagens geradas por computador e 3D.

A ação está de tal forma bem coreografada que quase acreditamos que Sandra Bullock e George Clooney estão realmente no espaço, sem gravidade. O realismo é habilmente aprimorado com a fluidez de movimentos que têm a beleza de um bailado. Gravity tem de ser visto no cinema, em 3D, e de preferência na maior tela possível! Assistir ao filme de Cuarón no pequeno ecrã em 2D é comparável a ouvir a Sinfonia n.º 9 de Beethoven num rádio a pilhas, é possível mas incomparável a ouvi-la ao vivo interpretada por uma orquestra. O 3D em Gravity é essencial! É um caso raro em que os elementos 3D não são apenas artifícios para tornar o filme mais in e interessante para a massa é vital para a imersão.

No cinema são raras as vezes em que se consegue criar sensações de imersão no espectador e só recentemente com o recurso aos avanço tecnológicos é que se começa a conseguir criar esta sensação mais facilmente. Cuarón parece dominar os aspectos tecnológicos do cinema como poucos criadores o conseguem. Juntamente com a sua equipa conseguiu alcançar o realismo meticuloso que o filme exigia, combinando tecnologias existentes com outras completamente novas. E não é possível falar das maravilhas técnicas de Gravity sem falar do cinematógrafo Emmanuel Lubezki. Se os anteriores longos single-takes de Lubezki em filmes de Cuarón eram impressionantes, estes não se comparam com a  magnitude do take de abertura de Gravity, contando com doze minutos… sem cortes. Para o cinematógrafo mexicano se os espectadores percebessem que a sequência era apenas um take continuo seria sinal que os espectadores não estariam imersos na cena. Cuaron e Lubezki queriam que Gravity parecesse o mais natural possível, uma tarefa muito difícil de levar a cabo quando se tem de recorrer tanto a CGI. Conseguiram fazê-lo de tal forma que deverão receber o Óscar para Melhores Efeitos Visuais.

Um dos filmes que mais surpreendeu em termos técnicos em 2012 (e que acabou por alcançar tanto o Óscar para Melhores Efeitos Visuais e como para Melhor Realizador) também se tratava de um drama em 3D sobre a sobrevivência num ambiente hostil. Em Life of Pi o personagem principal estava sozinho num pequeno barco no meio do oceano Pacífico e tinha como seu único companheiro um temível tigre de Bengala, que pode ou não ser real dependendo do ponto de vista do espectador. Em Gravity a personagem de Sandra Bullock (Ryan Stone) está perdida no vácuo do espaço sem atmosfera, sem som, sem nenhuma ligação à terra e apenas acompanhada pelo seu companheiro de missão Matt Kowalski. Ou será que o Gravity tem um plot twist? Em ambos os filmes o real se confunde com o irreal e é necessária grande mestria para deixar as coisas de tal forma em aberto que diferentes espectadores defendam o seu ponto de vista como sendo o verdadeiro.

Gravity tem um desafio adicional: superar o preconceito  do espectador que poderá achar que já viu tudo aquilo antes. Depois de mais de 100 anos (desde Le voyage dans la lune de Georges Méliès) de filmes sobre viagens espaciais a temática parece ter perdido algum do seu brilho. Cuarón conseguiu, no entanto, voltar a fazer-nos sonhar com o espaço, ainda por cima num ano tão especial no qual o projeto SpaceX renovou em muitos de nós a esperança de um dia viajar pelo cosmos.

Alfonso Cuarón mais uma vez deu provas de que é um realizador extremamente talentoso e com uma dedicação fora de série. Apesar de todas as incoerências científicas que foram apontadas a Gravity, Cuarón fez questão de representar da forma mais credível possível tudo o que conseguiu. Como Neil deGrasse Tyson, um popular astrofísico americano, acabou por afirmar “ganhar o direito de ser criticado num nível científico é um grande elogio.” Numa época em que os filmes que mais fazem uso de CGI e efeitos especiais são filmes pomposos que muito pouco têm de parecido com a realidade é algo surpreendente que um filme que aparenta ser realista e simples nos consiga deixar completamente hipnotizados e a pensar “como é que será que eles conseguiram fazer isto?”

 

Título Original Gravity
Título em Portugal Gravidade
Realizadores Alfonso Cuarón
Argumento Alfonso Cuarón e Jonás Cuarón
Elenco Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris
Nomeações Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Realizador, Melhor Fotografia, Melhor Montagem,  Melhor Direcção Artística, Melhor Banda Sonora Original, Melhor Mistura de Som, Melhor Edição de Som e Melhores Efeitos Visuais
A Minha Pontuação 10/10
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2 comentários

  1. Eu gostei do filme e achei-o quase perfeito, principalmente o desfecho. Talvez Clooney merecesse mais tempo de ecran.
    E o facto de finalmente alguém matar do cliché de um espaço com som (mas sem ar) e seguir um nível alto de realismo, principalmente em termos de física, valeu muitos pontos a este filme.
    É um filme de sobrevivência, que podia facilmente cair no aborrecido, mas mantém sempre aceso o interesse do espectador.

    Gostar

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