No ano em que as histórias sobre vigaristas fazem furor em quase todos os prémios do cinema, The Wolf of Wall Street é sem dúvida o mais polémico dos nomeados. O mais recente filme de Martin Scorsese retrata a história de Jordan Belfort, um jovem corretor da bolsa que enriquece através do negócio das ações de baixo valor, fraudes de investimento e lavagem de dinheiro.
The Wolf of Wall Street é o filme mais longo da carreira de Martin Scorsese, mas para que valha a pena investir três horas num filme sobre um corretor da bolsa corrupto seria preciso que o filme fosse muito mais do que glamoroso e esporadicamente divertido. O problema do filme de Scorsese não é, como muitos apontam, o excesso de álcool, sexo e drogas, é sim o facto de acabar por ser redundante e essencialmente aborrecido.
Parece que Scorsese e o argumentista Terence Winter pensaram que a maneira de mostrar a vida de excessos de Belfort era serem também eles excessivos. Mas de quantas cenas de bacanal necessita o espectador para perceber como era a vida de Belfort? E quanto tempo têm de durar estas cenas?
Muitas das sequências deveriam claramente ter sido cortadas na edição pois alongam-se tanto que o espectador perde o interesse. O exemplo mais flagrante é uma sequência em que Donnie Azoff, a personagem de Jonah Hill, e Brad (Jon Bernthal) estão numa rua a discutir com uma mala cheia de dinheiro entre eles. A cena é tão longa que no ponto alto da mesma, quando Brad é apanhado pela polícia, nem nos conseguimos recordar o porquê da discussão, de onde aparecem os polícias e o que é aquele dinheiro.
Outra cena demasiado longa é a sequência em que Jordan, completamente drogado, rasteja até o seu carro desportivo estacionado à porta do country club. Tendo em conta que fomos bombardeados durante todo o filme com cenas de abuso de estupefacientes esta cena de humor negro tinha todo o potencial para ser o símbolo máximo da decadência da vida de Belfort. No entanto perde toda a sua força pelo facto de se arrastar demasiado e acaba por deixar o público esgotado e irritado.
Todos os minutos a mais vão acumulando de tal forma que até os momentos vibrantes do filme se tornam monótonos. Apesar de ser divertido ver DiCaprio a representar as cenas em que Belfort estava sob o efeito de Quaaludes ou nos seus discursos acalorados para a sua matilha de corretores da bolsa, tudo isto se torna também tristemente previsível e longo.
Mas enganam-se os que pensam que os atores são responsáveis pelos fracassos do filme. DiCaprio tem uma performance incrível, muito provocadora, destemida e exuberante. Talvez esta não seja suficiente para que mereça o Óscar de Melhor Ator, no entanto justifica claramente a sua nomeação. Também Jonah Hill tem um excelente desempenho no papel de melhor amigo de Belford e apesar de não ter grandes hipóteses de receber o Óscar para Melhor Ator Secundário a nomeação (pela segunda vez) é uma grande vitória para o comediante.
A atriz Margot Robbie, que interpreta a mulher-troféu de Belford, fez o que conseguiu com o seu papel pouco desenvolvido e mesmo assim conseguiu brilhar em algumas cenas. A sequência em que ela se humilha perante o marido em frente do berço do bebé tinha imenso potencial, mas como Scorsese não desenvolveu a relação entre ela e o marido ficou a ser apenas mais uma cena de sexo.
Entre planos mal conseguidos e más escolhas de edição (a não nomeação para a categoria de Edição nos Óscares não foi uma surpresa) o filme ainda poderia ter sido salvo pela performance dos atores, no entanto nenhuma das personagens, com excepção de Belfort, foi suficientemente desenvolvida para que o espectador pudesse relacionar-se com o filme. O filme acaba por não conseguir cativar o interesse nem pelas personagens nem pela temática, que também foi pobremente abordada e assim The Wolf of Wall Street acaba por ser apenas um Goodfellas mediano, demasiado longo, feito à pressa e sem atenção ao detalhe.
Título Original | The Wolf of Wall Street |
Título em Portugal | O Lobo de Wall Street |
Realizadores | Martin Scorsese |
Argumento | Terence Winter a partir do livro de Jordan Belfort |
Elenco | Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Rob Reiner, Jean Dujardin, Kyle Chandler |
Nomeações | Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Secundário, Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado |
A Minha Pontuação | 7/10 |